Archive for the ‘Mechabolic’ Category
Mechabolic
A pedidos, o website do Mechabolic, que explica os comos, quandos e porquês da coisa toda. Escreveram o meu nome errado, grr…
foto de Jess Hobbs
Exausto
Fim de semana inteiro trabalhando, carregando vigas de metal, correndo para comprar mais ferramentas, soldando, cortando, lixando, por horas, noite a dentro. 4 horas de sono, acordar, começar tudo de novo. A estrutura está pronta. É enorme, mais longa que duas jamantas. Os gasificadores funcionam. Falta juntar todos os subsistemas, testar, depois desmantelar e colocar em containers. E depois montar tudo de novo no deserto. Ainda não sei se vai dar tempo de acabar antes do deserto, veremos. Mas eu estou cansado prá chuchu.
Reta Final
O Mechabolic está na fase final. Faltam só 4 dias até o bicho ser colocado em duas jamantas e partir para o deserto de Nevada e o Burning Man. Mas ainda falta muito, muito trabalho para fazer. Talvez parte da construção tenha que acabar sendo feita no deserto. Espero que não. Já tentou trabalhar com um soldador sob um calor de 45 graus? Eu não recomendo. Até lá, toda noite é noite de trabalho. E o fim de semana também.
Algumas fotos da Jess Hobbs:
A flor de fogo
Parte da estrutura:
Montando a estrutura:
O lister, um dos geradores que vai ser alimentado pelo gasificador:
Mechabolic – the making of
A construção do Mechabolic segue a todo vapor, com 3 semanas até o Burning Man. Estou trabalhando lá nos fins de semana e à noite depois do trabalho, acho que vai dar para ficar pronto a tempo. Esta semana chegou o motor de dragster que vai fazer o bicho se mover pelo deserto.
Isso é só um quarto do chassis…
O gasificador que eu estou ajudando a construir.
Vai soldando aí meu filho.
E mais fotos da Jess Hobbs aqui:
Desert Sessions
O lugar onde eu durmo e recebo as contas fica em San Francisco.
Mas a minha casa fica no deserto. Ja é assim há muito tempo. Já visitei vários, eu coleciono desertos como um negociante Berbere coleciona pérolas.
Os nomes rolam fácil da língua: Sonora, Mojave, Death Valley, Escalante, Grande Deserto de Areia da Austrália. Ainda faltam o Atacama, Kalahari, Kara Kum e Gobi, daí posso morrer feliz.
Mas o meu preferido ainda é o deserto de Black Rock em Nevada. 3.500 km quadrados de desolação e silêncio. Nem insetos você lá de tão morto que o lugar é. A maior parte do deserto é um leito seco de um lago pre-histórico, de 80 km de comprimento e até 50 km de largura. Completamente plano e cercado de montanhas de até 1500 m de altura a uma altitude de 2000 m. Na parte mais acessível do deserto recordes mundiais de velocidade terrestre foram quebrados. Já a parte mais distante é um dos lugares mais remotos e menos frequentados da América do Norte. O meu amigo Dennis descreveu a sua experiência nos confins do Black Rock Desert assim:
“Eu voltaria lá. Quer dizer, voltaria lá com dois jipes 4×4, guincho, ferramentas para consertar o que quebrar, água e comida para duas semanas, rádio, GPS, foguetes de sinalização, correntes, tábuas de madeira para o atolamento que vai acontecer com certeza e 2 estepes por carro. Ah, e uma arma apontada para a minha cabeça.”
Não é brincadeira. Todo ano morre alguém nesse deserto, você vai muito fundo no deserto, o seu carro quebra ou atola na areia, você não trouxe água suficiente, caminhar 50 km não é uma opção a uma temperatura de 45 graus à sombra, já viu… Eu mesmo já passei um perrengue desses ano passado com o meu amigo Bryan aka Fko.
Mas é um dos lugares mais lindos que eu conheço. Você sobe a Sierra Nevada até 3000 metros de altura, cruza o Donner Pass e desce até a Grande Bacia de Nevada, Daí vira para o Norte e entra na reserva dos índios Paiutes, em direção ao Oregon. Na entrada da reserva eu já começo a sentir a eletricidade, a antecipação do deserto. Duas horas depois chegamos ao povoado de Gerlach, na beira do deserto. Mais meia hora no asfalto e chegamos ao 12 Mile, o melhor ponto de acesso ao deserto. Dessa vez é noite escura, 3 da manhã sem lua. Abrimos a tradicional cerveja comemorativa e entramos no deserto. De agora em diante não há mais estrada. É na base do olhômetro mesmo.
É claro que em dois minutos nós nos perdemos. Uma olhada na bússola mostra que nós estamos indo na direção oposta. Passamos a navegar com a bússola e o odômetro, com o GPS servindo de segunda opinião. Guiar no deserto é como navegar no mar, não há pontos de referência. E uma das coisas mais difíceis é achar os pontos de acesso. Eles ficam em meio a dunas e levou vários anos até eu memorizar onde eles ficam, usando os picos das montanhas como referência.
O deserto exige auto-suficiência mas em troca te dá liberdade. Dá para fazer coisas que não dá para fazer na cidade, como por exemplo, juntar um cabo de aço com arame com palha de aço, acender e fazer isso aqui:
Em 5 semanas retorno ao deserto como parte da equipe que está construindo o Mechabolic, desta vez por 10 dias para o Burning Man. A minha catarse anual, mistério Dionisíaco . Não vejo a hora.
Deu no Niuiorquitaimes
Artigo sobre o Mechabolic no NYT/CNET. Os caras, prá variar, não captaram o espírito da coisa, mas pubricidade é pubricidade…
Aqui.
Café, Hidrogênio e Contracultura
Pois é. O projeto em que estou trabalhando acabou saindo na Business 2.0. Vai lá na página 68 onde está o nosso caminhão, o Café Racer. Precisa de Flash para ver. Diacho.
Por um lado é legal ter o reconhecimento do “mundo default”; por outro lado eu fico muito desconfiado quando uma revista corporativa começa a prestar atenção. Eu moro em San Francisco exatamente porque é uma das poucas cidades no mundo onde a contracultura vai muito bem, obrigado. E o nosso projeto é a contracultura da energia.
Hoje em dia nos Estados Unidos, a moda é falar de combustíveis alternativos. De repente o Brasil e a cana de açúcar estão nas páginas das revistas e jornais. E o que nós fizemos? Nós construímos um caminhão movido a café! Isso mesmo, você põe café e um gasificador que nós construímos inteiramente com sucata transforma o café em hidrogênio que é bombeado diretamente para a entrada de ar de um motor a diesel comum. Tecnologia dos Flintstones no século 21.
Simplesmente trata-se da tecnologia do gasogênio que foi muito usada pelos Alemães na Segunda Guerra Mundial. Depois nós descobrimos que não existe recorde mundial de velocidade para veículos movidos a gasogênio. Ora, então vamos fazer o nosso! Vamos levar o caminhão para a Bonneville Speedway, em Utah e bater o recorde mundial fazendo o Café Racer ir a 1 milha por hora. Tudo em nome da comédia, pois o Café Racer chega a fazer 80 km por hora. Não sei se faz diferença usar Café Pelé ou Do Ponto.
Ói eu aí soldando o ciclone do gasificador. Operário padrão é a mãe.
Na verdade, o Café Racer é só um protótipo de um outro projeto que estamos desenvolvendo para o Burning Man, o famoso festival de artes e contracultura (aliás nem tão contracultura assim mais, mas isso é outra história) no deserto de Black Rock em Nevada. Chama-se Mechabolic e a melhor descrição que eu posso oferecer é que é um lesmão de cerca de 30 metros de comprimento que vai se mover pelo deserto totalmente movido a gasificadores e biodigestores que vão usar o lixo produzido no festival. Eu sabia que aquele diploma de engenheiro químico ia servir para alguma coisa um dia… Na verdade o meu interesse no projeto é desenvolver tecnologias que possam ser usadas para produzir energia em áreas rurais no Brasil. Por exemplo, há tanto bagaço de cana que poderia ser usado para produzir hidrogênio como combustivel de geradores para eletrificação de áreas rurais. Nos próximos meses, estarei mostrando o progresso do projeto aqui. Quem viver, verá.
O protótipo do protótipo. A chama está queimando hidrogênio. O problema é o cheiro…